Dados do Projeto liderado pela Vara da Infância e Juventude de União da Vitória revelam perfil de abusadores e suas vítimas.
Lançado em 18 de maio deste ano, o Projeto Confiar segue na linha de frente de uma batalha silenciosa. Pelo menos, silenciosa até agora. É que a proposta principal do Confiar é justamente ser o ouvido de quem não tinha para quem pedir socorro. Mas, mais do que ouvir com carinho os menores possíveis vítimas de abuso e exploração sexual, o projeto estuda o caso e garante, a partir disso, um mapa da violência.
A reportagem de O Comércio teve acesso a estes dados. Conforme eles confirmam-se as suspeitas que sempre rondaram este tipo de crime: a violência sexual acontece, em 90% dos casos, no ambiente familiar. Na maioria das vezes, são pessoas aparentemente normais e do círculo de confiança das crianças e adolescentes. Podem ser seus pais, responsáveis, amigos, vizinhos, colegas. Os abusos praticados por estranhos também estão mais comuns, especialmente em jovens abordados por desconhecidos ou pela internet. Ficou claro também que a violência pode ser física ou não, mas que sempre há agressão psicológica. Segundo Daniele Jasniewski, uma das autoras do Projeto Confiar, os efeitos de situações de abuso sexual, além da própria agressão física, podem ter repercussões sociais e emocionais, até psiquiátrica. “No âmbito psiquiátrico é possível observar sintomas compatíveis com depressão, transtornos de ansiedade, transtornos alimentares e do sono”, alerta.
Ainda de acordo com a psicóloga, existem alguns sinais que podem evidenciar que a criança ou adolescente estão vivenciando uma situação de abuso. “As vítimas em muitos casos demonstram medo exagerado de adultos, manifestam tristeza contínua, podem apresentar ideação suicida, comportamento sexual não compatível com a idade (masturbação frequente, muitas vezes em público), baixa autoestima, podem preferir isolar-se socialmente, baixar o rendimento escolar”, explica Daniele.
Danika
Daniele Jasniewski
E sempre, sem exceção, a vítima é vítima. E ponto final. Os relatos das escutas do Confiar indicam que o sentimento de culpa de quem sofre o abuso é quase unanimidade. Para os profissionais, este efeito é justamente o que querem os abusadores. Eles intimidam, enfrentam, ameaçam e condenam. E como cita Daniele, os resultados de tudo isso podem ser catastróficos e vão desde o comprometimento do rendimento escolar ao suicídio.
Prevenir sempre foi o melhor remédio
Sabe aquele ditado de que ‘prevenir é melhor que remediar’? Pois é. Na situação da violência sexual, ele casa muito bem. Falar sobre o abuso, orientar os baixinhos sobre seu corpo e seus direitos, pode ser a resposta para o fim do volumoso número de situações violentas, espalhadas pelo País todo. A abordagem pode ser simples, mas precisa ser direta, sem ninguém precisar ficar coradinho, tímido. O assunto é sério e deve ser tratado do mesmo jeito. Para Daniele, uma maneira eficaz para prevenir situações de abuso é possuir um diálogo aberto e com uma linguagem confortável com as crianças e/ou adolescentes, orientando-os sobre os limites a serem respeitados em seu corpo e maneiras de diferenciar carinhos de abusos.
É possível confiar
Entre outras atribuições, o Confiar promove carinho no atendimento das vítimas. Por isso, seu foco é na acolhida da vítima, quando se propõe a ouvir, de maneira humanizada, crianças e adolescentes vítimas do abuso. Para isso, existe uma equipe de profissionais que, unidos por essa intenção, trabalham de mãos dadas, desde o diagnóstico da veracidade do caso até a proteção da vítima. Embora lançado em maio, o Confiar está na ativa há cerca de dois anos. Os atendimentos acontecem na Vara da Infância e Juventude de União da Vitória, mas nos próximos dias terá um espaço físico exclusivo para os atendimentos (anexo a Delegacia da Mulher). Para denunciar (anonimamente) situações de abuso você pode usar o serviço do Disque 100 ou ainda entrar em contato com o Conselho Tutelar de seu município.
Texto: Mariana Honesko
Fonte: Portal Vvale